Você já ouviu falar de Tebas o Arquiteto? Ele foi um dos maiores arquitetos do Brasil colonial, responsável por obras que hoje são cartões postais de São Paulo, como a Igreja da Ordem 3ª do Carmo e a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco. Mas sua história é pouco conhecida e valorizada, pois ele era um homem negro e escravizado, que teve que lutar muito para conquistar sua liberdade e seu reconhecimento.
Qual era seu nome
Seu nome verdadeiro era Joaquim Pinto de Oliveira, nascido em 1721 na Vila de Santos, no litoral paulista. Ele era filho de Clara Pinta de Araújo, uma mulher escravizada que trabalhava na casa de um mestre-pedreiro português, Bento de Oliveira Lima. Foi ele quem levou Joaquim para São Paulo, onde o ensinou o ofício de mestre de cantaria, ou seja, o trabalho de talhar blocos de rocha bruta para a construção de edifícios.
Quem foi Tebas
Tebas foi um gênio da arquitetura, que transformou a paisagem de São Paulo com suas obras em pedra, substituindo as construções de taipa que predominavam na época. Ele se especializou na ornamentação de igrejas, criando fachadas, torres, portais e esculturas com grande beleza e originalidade. Ele também foi o autor do primeiro chafariz público da cidade, o Chafariz da Misericórdia, que abastecia a população com água do ribeirão Anhangabaú.
O Arquiteto Tebas era conhecido pelo seu talento e pela sua habilidade em resolver problemas técnicos e artísticos. Ele recebeu o apelido de Tebas por causa da língua quimbumbo, falada pelos escravos africanos, que significa “alguém de grande habilidade”. Ele também era chamado de “o arquiteto dos padres”, pois trabalhou para diversas ordens religiosas, como beneditinos, franciscanos, carmelitas e católicos.
Quais foram suas obras mais relevantes
Entre as obras mais importantes de Tebas, podemos destacar:
– A Igreja da Ordem 3ª do Carmo, que tem uma fachada barroca com elementos rococó e neoclássicos, considerada uma das mais belas do Brasil. Tebas foi responsável pela construção das torres sineiras e do frontão triangular que coroa a entrada principal.
– A Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, que tem uma fachada simples e elegante, com duas torres simétricas e um portal em arco. Tebas foi o encarregado de finalizar a obra iniciada por outro mestre-pedreiro.
– O Mosteiro de São Bento, que tem uma fachada imponente com quatro colunas salomônicas e um frontão curvo. Tebas participou da reforma da igreja, fazendo as esculturas dos anjos que adornam as colunas e o portal.
– A antiga Catedral da Sé, que foi demolida em 1911 para dar lugar à atual. Tebas colaborou na construção da torre esquerda da igreja, que tinha um relógio e um sino.
– O Chafariz da Misericórdia, que foi demolido em 1866. Era uma obra monumental, com uma fonte central cercada por quatro tanques menores. Tebas projetou e executou o sistema hidráulico que trazia a água do ribeirão Anhangabaú até o chafariz.
Quem interessava ignora-lo
Infelizmente, a história de Tebas foi ignorada por muito tempo pelos historiadores e pelas autoridades. Isso se deve ao racismo e à escravidão que marcaram o Brasil colonial e imperial. Tebas era visto como uma exceção, um caso isolado de um homem negro e escravizado que conseguiu se destacar na sociedade. Sua origem africana era apagada ou minimizada, e seu trabalho era atribuído aos seus mestres brancos ou às ordens religiosas que o contratavam.
Além disso, muitas de suas obras foram destruídas ou modificadas ao longo dos anos, sem que houvesse um cuidado com a preservação do seu legado. O Chafariz da Misericórdia, por exemplo, foi demolido para dar lugar a uma praça. A antiga Catedral da Sé foi substituída por uma nova, sem que se mantivesse nenhum vestígio da antiga. As igrejas que ele ornamentou foram reformadas e alteradas, perdendo parte de sua originalidade.
Qual era seu estilo
O arquiteto Tebas tinha um estilo próprio, que misturava influências do barroco, do rococó e do neoclássico. Ele era capaz de criar fachadas harmoniosas e equilibradas, com detalhes delicados e refinados. Ele também era um mestre na escultura em pedra, fazendo figuras de anjos, santos, flores e animais com grande expressividade e realismo. Ele tinha um domínio da técnica e da geometria, que lhe permitia resolver problemas complexos de engenharia e arquitetura.
Tebas foi um arquiteto inovador, que introduziu novos elementos na arquitetura paulistana, como as torres sineiras, os frontões triangulares e os portais em arco. Ele também foi um arquiteto popular, que se comunicava com o povo através de suas obras, que tinham um sentido religioso e social. Ele usava símbolos e imagens que remetiam à cultura africana, como as palmeiras, os leões e as serpentes.
Conclusão:
Tebas foi um arquiteto brasileiro negro que foi ignorado no Brasil, mas que merece ser lembrado e homenageado por sua contribuição à arte e à cultura nacional. Ele foi um exemplo de superação, de talento e de criatividade, que deixou um legado arquitetônico de valor inestimável para São Paulo e para o Brasil.
Você está aqui:
